Monday, November 27, 2006

Segunda-Feira Braba? Vamos Rir, Então...

Uma listinha das 10 melhores comédias, na minha singela opinião:

1 - A Vida de Brian (de Terry Jones, com o grupo Monty PPython: pobre coitado é confundido com Cristo e a contra-gosto arruma perseguidores e seguidores);
2 - O Monstro (de e com Roberto Benigni: outro caso de sujeito que é confundido com outra pessoa: ladrão pé-de-chinelo é procurado como autor de crimes bárbaros);
3 - Quem Vai Ficar Com Mary? (dos irmãos Farrelly, piadas infames, nojentas e muito divertidas na trama de rapaz que enfrenta concorrentes e trapaças para ficar com a gata do título);
4 - Apertem os Cintos: O Piloto Sumiu (do trio de diretores conhecidos com ZAZ, comédia maluca, grande marco dos anos 80, engraçada até hoje);
5 - O Monstro do Armário (trash hilário que mistura Clark Kent, Einstein e, claro, um monstro que sai do armário para atacar suas vítimas na calada da noite);
6 - O Professor Aloprado (o original de Jerry Lewis, obra-prima);
7 - Parente é Serpente (humor italiano nigérrimo, de Mario Monicelli, mesmo diretor de Quinteto Irreverente);
8 - As Férias do Sr. Hulot (de Jacques Tati, humor francês quase mudo da década de 50, gags visuais brilhantes);
9 - Sábado (comédia paulistana de Ugo Giorgetti passada toda em um único prédio: situações bizarras, personagens idem nas filmagens de um comercial para a TV);
10 - Plano Nove do Espaço Sideral (Plan 9 From Other Space, de Ed Wood: era para ser ficção e terror, mas dada a ruindade geral da produção tornou-se uma comédia involuntária e impagável, dessas que se ri do começo ao fim. Já foi considerado o pior filme da história. Relaxe e dê boas risadas).

Boa segunda-feira. E boa semana.

Sunday, November 19, 2006

Um Conto Para Relembrar a "Escura" Era FHC - Mas Com Bom Humor...

(R)Apagão

- É hoje que eu arrebento!
Não era uma frase nova. Todos os colegas da equipe do Sombra e Água Fresca F. C. já tinham ouvido o enorme Fernandão Trator pronunciá-la inúmeras vezes. Era uma promessa quase que ritual do centroavante. Mesmo quando passava o jogo inteiro esquentando o banco de reservas. Só que, na prática... Bem, levando ao pé da letra, Fernandão já tinha realmente arrebentado várias vezes: o tendão de Aquiles, numa partida; o joelho, noutra; os dedos dos pés umas duas vezes - e isso nos treinos - e até uma vez o maxilar, quando subiu muito para cabecear uma bola alçada na grande área e teve o queixo cabeceado por um zagueiro bem mais baixo que ele. Mas essa noite era uma ocasião especial: o Sombra e Água Fresca inaugurava a iluminação artificial do seu velho e acanhado estádio. Para Fernandão também, pois, graças à contusão do titular, ele enfim começaria jogando. Era a sua grande chance. O técnico, por sua vez, roendo as unhas de forma a irritar os demais que estavam no banco de reserva, confidenciou ao amigo massagista que rogara muito pelo novo centroavante em suas preces:
- Espero que ele realmente arrebente... e no bom sentido, desta vez. E que também não arrebente os outros. Que Deus o ilumine.
Oito em ponto. O jogo começa. A equipe da casa parte com entusiasmo para cima do adversário. A euforia também contaminou o bairro, que abarrotou as arquibancadas do Bica Luminosa - alcunha que lhe foi aplicada em homenagem a um famoso e bem maior estádio... Mas logo se vê que o jogo é e será feio, muitas faltas, marcação cerrada, reclamações, cartões aos montes para ambos os lados e o zero a zero estendendo-se quase até o final dos 90 minutos, quando, numa bola alçada na área pequena, o goleiro dos visitantes sai de sua meta 'catando borboletas'. Atrás dele, o zagueirão, outro que perde em estatura para o centroavante, sobe para o cabeceio e, conseqüentemente, ao invés de acertar a bola, alcançada antes por Fernandão...
- Ohhh!!!
Bem nesse exato, crucial momento, as luzes se apagam. Suspense geral. Tudo às escuras. No gramado, mais precisamente na área onde se dava a jogada, um estrondo forte, seco, simultâneo ao apagão, acelera o coração de todos os presentes, que inclusive sentem o chão tremer. "O que foi esse barulho?", pergunta um; "Trovão?", opina mais um; "Caixa de força explodindo?" sugere outro. O árbitro, por fim, se dá conta que alguém pode aproveitar a escuridão para trapacear; corre até o gol e passa a gritar infantilmente a todos pulmões:
- Como está, fica! Como está, fica!
De fato, ninguém se mexia no momento em que a luz voltou, apenas alguns segundos depois, graças ao gerador providenciado pelo presidente do Sombra - aliás, muito oportunamente um empresário do ramo de baterias e geradores...
Se ninguém se mexia, o que dizer, então, de Fernandão, estatelado na grama da pequena área?
- Ih, moçada, o rapagão apagou! - espantou-se o zagueiro dos visitantes que estava com o atacante na jogada, para em seguida reclamar: - Ai, minha cabeça!
Fez-se uma pequena multidão ao redor do moço, veio o médico - na verdade, um veterinário presente na torcida - e começou a reanimá-lo. Apesar do zagueiro jurar que chocou-se com o duro queixo de Fernandão, o mesmo tinha um vistoso galo na testa e nenhum outro atleta mostrava alguma contusão ou marca causada por um possível choque frontal com Fernandão. Então, o que teria causado o inchaço?- Pessoal... olhem só o travessão! - apontou outro impressionado jogador. O fato é que a haste superior do gol estava bem amassada. Se fizessem um molde de gesso da cabeça de Fernandão, ele encaixaria justinho naquele ponto afundado do travessão.
- Ei, olhem, lá dentro do gol! - alguém do Sombra gritou.
Era a bola. Sim, a pelota no fundo do gol! O árbitro já estava tirando do gramado os estranhos ao jogo e, com a confirmação do bandeirinha, que havia prontamente corrido para perto da área quando o blecaute aconteceu, apontou o meio de campo. A torcida gritou gol! Festa da galera, dos jogadores do Sombra e Água Fresca, revolta total dos visitantes, que afirmavam que pela regra o juíz devia dar "bola ao alto".
Fernandão recobrava os sentidos, acordado pela festa que o estádio fazia; abriu os olhos, viu a bola na rede, escancarou a bocarra num largo sorriso quando distinguiu seu nome sendo gritado pela torcida. Num pulo, levantou-se, esquecendo da dor no maxilar - e a da cabeça também - e foi ao alambrado - que quase foi abaixo com seu peso - comemorar com a galera. Todo sorrisos, voltou ao gramado. Enquanto os adversários reclamavam com a arbitragem, os companheiros cumprimentavam efusivamente o goleador. O jogo reiniciou e, um minuto depois, findou-se. Graças a Fernandão o Sombra e Água Fresca havia ganho uma. O nome do goleador era ainda gritado efusivamente pela torcida. Enquanto o trio de arbitragem se mandava para o vestiário com medo dos visitantes que queriam apagá-los, os companheiros do novo e iluminado artilheiro do Sombra corriam em sua direção para carregá-lo.
- Chega aí, pessoal, vamos erguer o Nandão! Vamos precisar de uns cinco aqui.
Mas, antes de chegarem a Fernandão Trator, o mesmo, não agüentando de emoção e após uma triunfante volta olímpica onde a todo momento esfregava o galo que agora ostentava como a um troféu, desmaiou. Dessa feita, pelo menos, havia um enorme sorriso em seu rosto desacordado. Os colegas da equipe acorreram ao seu redor, tentando a maioria reanimá-lo. Um jogava água, o outro dava tapinhas em suas faces mas nada de acordá-lo nem de tirar-lhe o sorriso que rasgava de orelha a orelha seu rosto. O técnico, preocupado, aproximou-se. O veterinário voltou ao campo e procurou tranqüilizar a todos, que muito provavelmente aquilo era resultado de pura emoção. Um dos jogadores, coçando a cabeça, comentou com o treinador:
- Xii, professor, e não é que o rapagão apagou de novo...
Rogério Stefanelli

Tuesday, November 14, 2006

Ouvindo Cinema e Vendo Rock


Foi com Sem Destino (Easy Rider) que se pavimentou a união entre rock'n'roll e cinema, muito embora os primeiros passos dessa dobradinha tenham sido dados com os filmes de Elvis Presley. Mas a imagem forte, definitiva, foi fixada nas estradas infindas do interior americano, com Peter Fonda e Dennis Hopper - mais Jack Nicholson na garupa - aventurando-se em suas motocas ao som de Born to be Wild, verdadeiro hino dos motoqueiros e aventureiros imortalizado pelo Steppenwolf.
De lá para cá o rock tem estado de mãos dadas com o cinema, seja como trilha incidental, seja como a própria trama.
Como trilha, vale comentar algumas que me marcaram há não muito tempo atrás. A de Uma Jogada do Destino (Judgemment Night), pequeno e ótimo filme de ação e suspense urbano estrelado por Emílio Estevez e com Dennis Leary no papel do vilão, merece destaque sua TSO de duplas que mesclaram rap com o mais pesado rock, ressaltando-se o dueto Boo-Ya Tribe/Faith No More com Another Body Murdered: enquanto Boo-Ya rapeava e as guitarras e baixo do FNM tocavam com todo peso, seu vocal Mike Patton arrepiava com gritos alucinados. O clipe passou muito na MTV em primórdios dos anos 90, mesma época de O Corvo (The Crow), célebre, infelizmente, não só por ser um vibrante filme de suspense, terror e ação, mas pela trágica morte de Brandon (filho de Bruce) Lee nas filmagens. Era ele então um astro em franca ascensão, tendo feito interessantes filmes policiais e de artes marciais como Rajada de Fogo (não confundir com Rajadas de Fogo, de John Woo) e Massacre no Bairro Japonês, onde fazia dupla com Dolph Lundgren, que foi cotado como um sucessor de Schwarzennegger e Stalonne, mas ficou no quase... A trilha de O Corvo apostava no rock pesado e tinha como destaque Milk Toast, dos Helmet, banda americana na época famosa por Unsung, outro hit dos bons tempos da MTV.
Outro filme do mesmo período tornou-se célebre, mais pela trilha sonora que pela história em si: O Último Grande Herói tinha Schwarzennegger e uma trama até interessante, com um herói de ação que escapa de seu filme e cai no mundo real. Porém o interesse do que se via na tela foi suplantado pelo que se ouvia: Megadeth, Queensrÿche, Aerosmith, AC/DC, Alice in Chains... Até hoje é difícil ver tantos nomes de peso numa única trilha sonora.
Poderia discorrer por horas sobre filmes bem sucedidos nessa casadinha ação x rock, mas é interessante também usar este espaço para lembrar de filmes onde essa união vai mais longe, ou seja, onde o...

rock é o tema

A cinebiografia The Doors, levada às telas por Oliver Stone (As Torres Gêmeas) em 1991, com Val Kilmer no papel de Jim Morrison, é das primeiras lembranças a vir à mente quando se fala nesse assunto. Vale lembrar que Kilmer, além da atuação extremamente realista, era a cara de Morrison, como bem ressaltou a revista Set numa de suas mais memoráveis capas, onde metade do rosto do cantor fundia-se perfeitamente à outra metade, rosto do ator. A trama, obviamente, segue toda a trajetória da banda, destacando a atribulada vida do líder, o cantor e poeta Morrison, toda a loucura de drogas, álcool e mulheres pespontada pela arrebatação de clássicos como Riders on the Storm, LA Woman, Break on Trough, Light My Fire, chegando ao apoteótico The End.
Porém, a união foi bem menos densa em outras opotunidades, onde o rock e o riso estiveram de braços dados. Jack Black - que na vida real tem uma banda de rock - viveu um sujeito que é expulso de uma banda graças aos seus excessos com a guitarra e, para sobreviver, resolve assumir falsa identidade para se passar por professor de uma escola tradicional, usando seus conhecimentos de história - história do rock'n'roll - para ganhar a atenção dos alunos. Trata-se do filme Escola do Rock, em cujo DVD há um extra em que o parrudo astro de O Amor é Cego e do King Kong de Peter Jackson orgulha-se e agradece ao Led Zeppelin pela inclusão de Immigrant Song na trilha sonora.
Um filme legal também na área do riso é Quanto Mais Idiota Melhor: dois malucos aficionados por rock montam uma TV pirata numa garagem. A cena de destaque acontece quando os personagens dublam/cantam Bohemian Rapsody, clássica do Queen, dando uma volta de carro co9m outros amigos.
Passando da comédia ao romance, Cameron Crowe ganhou espaço no cinema quando dirigiu Vida de Solteiro (Singles), com Matt Dillon e Bridget Fonda no elenco e grandes bandas grunges na trilha, como Alice in Chains, Pearl Jam e Soundgarden, com direito até a apresentações ao vivo permeando os encontros e desencontros do casal. O próprio Crowe, mais tarde, dirigiria Quase Famosos, com a revelação Kate Hudson como uma roadie de uma banda quase famosa - e fictícia, na verdade.

Brasil, Mostra a tua Cara!

Há também alguns filmes nacionais que merecem lembrança. O principal certamente é a cinebiografia Cazuza - O Tempo Não Pára, com Daniel de Oliveira encarnando com assustadora semelhança o genial líder da criação do Barão Vermelho. Um drama forte que não deixa passar batido nenhum dos grandes sucessos, seja do saudoso cantor em carreira solo, seja de sua fase no Barão.
Houve nos anos 1980 toda uma leva de filmes, alguns bons, outros nem tanto, aproveitando a fase New Wave do rock nacional. Rock Estrela, com Metrô e Léo Jaime na trilha; Garota Dourada e Bete Balanço, com músicas do Rádio Táxi e do Barão Vermelho, respectivamente, deram os títulos a outros filmes famosos do período. Um Trem para as Estrelas aproveita a canção de Cazuza, embora a obra não flertasse muito com o rock. E também é curioso lembrar o aproveitamento de Bichos Escrotos, dos Titãs em sua melhor fase, na trilha do policial Faca de Dois Gumes.

Terror e Pauleira

Um filme que traduz bem a compatibilidade entre o Terror e o Heavy Metal é O Rock do Dia das Bruxas (Trick or Treat), em vídeo conhecido como Heavy Metal do Horror, que nos anos 80 e 90 foi exibido à exaustão no SBT, dirigido por Charles Martin Smith, astro de Os Lobos Não Choram e o contador de Os Intocáveis. A história aproveita-se da velha lenda das mensagens satânicas que podem ser ouvidas ao se tocar determinados discos (notadamente de heavy metal) ao contrário. Tem participações de Gene Simons, do Kiss, e de Ozzie Osbourne (Black Sabbath).
Lembro-me muito bem de Hellraiser 3 - Inferno na Terra (aliás, o último bom filme da série...): Motorhead fecha o filme, tocando nos letreiros finais a podreira... Hellraiser.
Rejeitados pelo Diabo (Devil's Reject), suspense barra-pesada obra do líder do White Zombie, Rob Zombie, tem desfecho com direito à execução de praticamente toda a épica Free Bird, do Lynard Skynard, mítica banda americana que também teve destaque na refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica - que, por sinal, também tinha o Skynard na trilha e era citado pelos personagens.

Um Documentário

Já os documentários mereceriam um capítulo à parte, de tão extensa é a lista, começando pelos vários que têm como tema o Festival de Woodstock, passando pelos que trilham o caminho de nomes como Bob Dylan (ninguém menos que Francis F. Coppola envolvido na produção) até Metallica (o excelente Some Kind of Monster). Mas termino ressaltando um: U2 - Rattle and Hum, verdadeira viagem musical do diretor Phil Joanou (da comédia oitentista Te Pego Lá Fora), acompanhando a turnê da banda em solo americano, na época do megassucesso do álbum The Joshua Tree. A execução de I Still Haven't Found What I Looking For com um coral batista é de arrepiar. É obra para fãs dos irlandeses, do rock'n'roll em geral e do bom cinema.

Wednesday, November 08, 2006

Rock: Em Agonia nas Rádios

Cada vez mais diminuem as razões para manter o rádio ligado. Opções já eram poucas, pelo menos por estas plagas paulistas, mas agora, de uns quatro meses para cá, as coisas pioraram. Por que? Simplesmente porque duas rádios tradicionais em programação rock'n'roll se venderam, na pior acepção do termo.
Começou com a Mix que, apesar de não ter a tradição de uma 89 FM, tinha o todo de sua programação voltada para o rock e reggae. Lá pelos primórdios do ano começou a dar espaço para rap e outras vertentes. Hoje degringolou de vez, tornando-se uma versão (muito) piorada da Joven Pan.
Então, quando as opções ao ouvinte do gênero eternizado por Elvis, Purple, Hendrix, Doors e outros gênios já eram escassas, eis que a 89 FM - a Rádio Rock - é, na surdina, na metade de 2006, adquirida pelo grupo Bandeirantes e passa a executar coisas de deixar qualquer rockeiro que se preze de cabelos em pé e com calafrios: surgem na programação Tribalistas, Maryah Carey, a rasteiríssima black music e rythm'n'blues americana - com seus nomes difíceis de guardar e, obviamente, descartáveis -, dance bate-estaca e outras coisas que beiram o brega. Enfim, esqueceram-se totalmente do ouvinte tradicional da rádio, aquele que há vinte anos a acompanhava curtindo o bom e velho (ou novo...) rock'n'roll. Esqueceram-se não é bem o termo: ignoraram mesmo. Heresia cometida com fins comerciais? Vamos ver o que farão quando passar a moda de Black Eyed Peas, Beyoncé e congêneres. Qual será o próximo passo: Bruno & Marrone (argh!)? Calypso (ui!)?
Será que a programação rock não dava retorno? Duvido... Só um exemplo da legião de fãs que curtia a rádio: a comunidade no orkut Órfãos da 89 FM está beirando os 67 mil participantes. A 89 de hoje virou apenas mais uma como qualquer outra, não faz diferença nenhuma. Pelo contrário: faz diferença a ausência do rock, reduzido a uma reles parcela da programação. Programadores que crêem, desse jeito, aumentar a parcela de ouvintes jovens da emissora. Mas é de se duvidar que a audiência tenha aumentado.
Claro que a rádio já não era mais a mesma, foram-se os bons tempos, fins dos anos 1980 e princípio dos 1990, quando a 89 tinha a coragem de tocar com freqüência Pantera, White Zombie, Brujeria, Motorhead, agradando os adeptos do rock pesado e também do alternativo brasileiro, como Golpe de Estado e Inocentes, sem deixar de lado o pop rock e o clássico. Hoje, não só limaram o rock pesado e clássico da programação como se limitaram a tocar o mais puro e insosso rock mauricinho e farofeiro. Pode-se dizer, em linhas gerais, que salvam-se duas em cada dez músicas executadas.
O que dizer dos programas? Todos os bons programas da 89, como o Arquivo do Rock, Noise e o Versão Brasileira foram detonados, assim como locutores de talento, identificação com o público e anos de casa, como Roberto Hais, Luka e Zé Luís, desrespeitados por uma troglodítica e incompetente nova (pero arcaica...) diretoria.
As afiliadas da rádio paulistana, infelizmente, foram pelo mesmo (des)caminho, como por exemplo a 103 FM de Sorocaba. Aliás, a populosa cidade de mais de meio milhão de habitantes ficou sem uma rádio no gênero, posto que a heróica Kiss FM tem um sinal de recepção fraco na região e 107 Rock é praticamente impossível de sintonizar. Pena: essas são duas dignas representantes do gênero subestimado num país que curte pagode, sertanojo, axé e tosqueiras black made in USA.
A 107 (107,3 MHz), por sinal, trata-se da antiga Brasil 2000. Creio que tanto ela quanto a Kiss poderiam aproveitar melhor esse nicho deixado pela extinta 89 Rock para expandirem-se, dando uma resposta, mesmo que indireta, a esse pessoal do grupo Bandeirantes que prefere apostar no fácil e efêmero, na pseudocultura de boa parte da população do que incentivar uma cultura musical de melhor nível. E por fim há que se lembrar que, mesmo sem querer, esse grupo incentiva ainda mais uma nova mania que se alastra Brasil (e mundo) afora: a dos MP3 players - uma benção para fugir da mesmice de 99% das rádios, atoladas, quando não em fanatismo religioso, em humor sem graça e modismos para explorar, principalmente, o público adolescente e jovens em geral.

Thursday, November 02, 2006

Cinema Feroz: Dedos Cortados

Hoje estréia Jogos Mortais 3 (Saw 3) nos cinemas brasileiros. A trama do assassino Jigsaw, um doente (em amplos sentidos) que produz armadilhas das quais as vítimas só sobrevivem se passarem por terríveis suplícios - próprios ou de outrem - nos remetem a pensar que este ano de 2006 que está em sua reta final foi pródigo em filmes de suspense/terror com a cara e a coragem de produções típicas dos anos 1970 e começo de 1980, vide clássicos como Aniversário Macabro (The Last House on the Left), O Massacre da Serra Elétrica (Texas Chainsaw Massacre), Zombie - O Despertar dos Mortos (Down of the Dead) e Quadrilha de Sádicos (The Hills Have Eyes). Este último, aliás, ganhou uma refilmagem terrivelmente violenta, no Brasil intitulada Viagem Maldita. A história é a mesma do clássico de Wes Craven, mas com algumas diferenças. A mais gritante são as cenas de violência, explícita, orquestrada por alguém de experiência no assunto: Alexandre Aja, diretor do sangrento e cultuado francês Haute Tension, lançado em vídeo no Brasil como Alta Tensão. O herói de Aja remete ao Dustin Hoffman de Sob o Domínio do Medo (1971), de Sam Peckimpah: o sujeito pacato que, numa situação limite, torna-se uma fera para defender o seu espaço e/ou sua família. Mas o de Viagem Maldita extrapola, extravasando sua raiva de forma tão feroz quanto seus monstruosos algozes canibais. E o que se vê, então, é um espetáculo de pessoas queimadas, estupradas e mortas a tiro de um lado, eliminadas a machadadas e empaladas de outro, com direito a algumas cenas arrepiantes de violência on screen, principalmente envolvendo as já citadas machadadas.

O ano começou com outra viagem: Wolf Creek - Viagem ao Inferno, suspense australiano que traz, a meu ver, um dos vilões mais detestáveis da história do cinema, um sujeito que, num lugar no meio do nada, onde a única atração é a tal Wolf Creek - uma enorme cratera causada pela queda de algum asteróide -, comete atrocidades contra mochileiros que se aventuram pelo local. O pior de tudo é que tal história é baseada em fatos (a revista Set do mês de outubro traz uma interessante matéria sobre os psicopatas da vida real que inspiraram obras do cinema). O que coloca Wolf Creek acima da média é a direção e roteiro inteligentes de Greg McLean, que não abdica de algumas cenas capazes de fazer os mais sensíveis virarem o rosto, mas foi capaz de causar grande empatia pelo jovem trio de vítimas na primeira metade do filme, tornando mais cruéis, por conseqüência, os destinos dos mesmos quando se deparam com o lunático, à primeira vista, pacato e falastrão, mas com um espírito predador que não diferencia animais e pessoas como possíveis presas. Há duas curiosas semelhanças entre esta viagem e a Viagem Maldita de Alexandre Aja: em ambos há um grupo de pessoas no meio de uma região desértica - onde irão encontrar uma enorme cratera, além dos assassinos psicóticos - e em ambos há cenas em que os protagonistas têm alguns dedos decepados, em cenas muito angustiantes. Há que se pensar o que esses cineastas têm contra os dedos. Será que eles preferiam cascos, eh! eh!

Outra obra medonha de 2006 no quesito violência explícita é O Albergue (Hostel), de Eli Roth - outro que parece não gostar de dedos: em seu filme, além de cenas de atropelamento, furadeiras esburacando pernas, serras elétricas cortando outras, há duas cenas de decepação. A última é particularmente aflitiva.

Este foi um ano em que diretores esnobaram a MPAA (órgão censor americano) e escancaram a violência em obras de qualidade que chegaram às salas de exibição do chamado cinema mainstream, há muito entregue a produções voltadas, no gênero, ao terror teen, fitas como Eu Sei o Que Vocês Fizeram no Verão Passado, O Dia do Terror, Lendas Urbanas e tantas outras que se valiam mais de efeitos sonoros (leia-se: som aumentado) e situações clichês para causar sustos fáceis. Cineastas como Aja e Roth vieram para dizer que o buraco é mais embaixo, e que o cinema de horror e suspense agora tem outros caminhos traçados, levando ao público do gênero aquilo que ele realmente quer ver e sentir: medo, nojo, raiva, enfim uma verdadeira catarse para o que ele vê nos noticiários todos os dias - e não mais obras rasas com garotões sarados metidos a heróis e donzelas correndo e gritando pelos cenários com vilões mascarados e pouco pluasíveis em seu encalço. Os rumos do terror agora são outros e os estúdios começam a se dar conta. Abismo de Medo (The Descent) é outro desses novos cults que vêm para pavimentar esse novo caminho, já anunciado nos anos anteriores com barras-pesada de qualidade como Madrugada dos Mortos (refilmagem de Down of the Dead, por Zach Schnider) , o quarto da saga de zumbis de George Romero, Terra dos Mortos (Land of the Dead), a refilmagem de Massacre da Serra Elétrica (com Jessica Biel) até A Casa de Cera (House of Wax), terror no limiar entre o teen e o gore mais realista - inclusive, com direito a outra (!) cena de dedos decepados.

Enfim, o terror ganha substância - apesar de perder os dedos - e retoma o rumo perdido desde os anos 80 do século passado. Que venham os novos Albergues, Saws, Viagens e suas tramas ferozes. E escondam suas mãos.