Wednesday, November 08, 2006

Rock: Em Agonia nas Rádios

Cada vez mais diminuem as razões para manter o rádio ligado. Opções já eram poucas, pelo menos por estas plagas paulistas, mas agora, de uns quatro meses para cá, as coisas pioraram. Por que? Simplesmente porque duas rádios tradicionais em programação rock'n'roll se venderam, na pior acepção do termo.
Começou com a Mix que, apesar de não ter a tradição de uma 89 FM, tinha o todo de sua programação voltada para o rock e reggae. Lá pelos primórdios do ano começou a dar espaço para rap e outras vertentes. Hoje degringolou de vez, tornando-se uma versão (muito) piorada da Joven Pan.
Então, quando as opções ao ouvinte do gênero eternizado por Elvis, Purple, Hendrix, Doors e outros gênios já eram escassas, eis que a 89 FM - a Rádio Rock - é, na surdina, na metade de 2006, adquirida pelo grupo Bandeirantes e passa a executar coisas de deixar qualquer rockeiro que se preze de cabelos em pé e com calafrios: surgem na programação Tribalistas, Maryah Carey, a rasteiríssima black music e rythm'n'blues americana - com seus nomes difíceis de guardar e, obviamente, descartáveis -, dance bate-estaca e outras coisas que beiram o brega. Enfim, esqueceram-se totalmente do ouvinte tradicional da rádio, aquele que há vinte anos a acompanhava curtindo o bom e velho (ou novo...) rock'n'roll. Esqueceram-se não é bem o termo: ignoraram mesmo. Heresia cometida com fins comerciais? Vamos ver o que farão quando passar a moda de Black Eyed Peas, Beyoncé e congêneres. Qual será o próximo passo: Bruno & Marrone (argh!)? Calypso (ui!)?
Será que a programação rock não dava retorno? Duvido... Só um exemplo da legião de fãs que curtia a rádio: a comunidade no orkut Órfãos da 89 FM está beirando os 67 mil participantes. A 89 de hoje virou apenas mais uma como qualquer outra, não faz diferença nenhuma. Pelo contrário: faz diferença a ausência do rock, reduzido a uma reles parcela da programação. Programadores que crêem, desse jeito, aumentar a parcela de ouvintes jovens da emissora. Mas é de se duvidar que a audiência tenha aumentado.
Claro que a rádio já não era mais a mesma, foram-se os bons tempos, fins dos anos 1980 e princípio dos 1990, quando a 89 tinha a coragem de tocar com freqüência Pantera, White Zombie, Brujeria, Motorhead, agradando os adeptos do rock pesado e também do alternativo brasileiro, como Golpe de Estado e Inocentes, sem deixar de lado o pop rock e o clássico. Hoje, não só limaram o rock pesado e clássico da programação como se limitaram a tocar o mais puro e insosso rock mauricinho e farofeiro. Pode-se dizer, em linhas gerais, que salvam-se duas em cada dez músicas executadas.
O que dizer dos programas? Todos os bons programas da 89, como o Arquivo do Rock, Noise e o Versão Brasileira foram detonados, assim como locutores de talento, identificação com o público e anos de casa, como Roberto Hais, Luka e Zé Luís, desrespeitados por uma troglodítica e incompetente nova (pero arcaica...) diretoria.
As afiliadas da rádio paulistana, infelizmente, foram pelo mesmo (des)caminho, como por exemplo a 103 FM de Sorocaba. Aliás, a populosa cidade de mais de meio milhão de habitantes ficou sem uma rádio no gênero, posto que a heróica Kiss FM tem um sinal de recepção fraco na região e 107 Rock é praticamente impossível de sintonizar. Pena: essas são duas dignas representantes do gênero subestimado num país que curte pagode, sertanojo, axé e tosqueiras black made in USA.
A 107 (107,3 MHz), por sinal, trata-se da antiga Brasil 2000. Creio que tanto ela quanto a Kiss poderiam aproveitar melhor esse nicho deixado pela extinta 89 Rock para expandirem-se, dando uma resposta, mesmo que indireta, a esse pessoal do grupo Bandeirantes que prefere apostar no fácil e efêmero, na pseudocultura de boa parte da população do que incentivar uma cultura musical de melhor nível. E por fim há que se lembrar que, mesmo sem querer, esse grupo incentiva ainda mais uma nova mania que se alastra Brasil (e mundo) afora: a dos MP3 players - uma benção para fugir da mesmice de 99% das rádios, atoladas, quando não em fanatismo religioso, em humor sem graça e modismos para explorar, principalmente, o público adolescente e jovens em geral.

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