Friday, November 02, 2007

Telas e Páginas de Opressão

Há alguns dias adquiri o DVD de V de Vingança (2005), competente versão para as telas da graphic novel de Alan Moore. Uma interessante trama sobre a opressão do Estado numa Inglaterra futurista (a alusão a Hitler no personagem de John Hurt é clara, assim como evoca o Big Brother de 1984, de Orwell, na onipresença de televisores e enormes telas em cada esquina).

Em Clube da Luta (1999), David Fincher utiliza a subversão para atacar o poder econômico, agente opressor - também onipresente, embora quase impalpável - numa trama de duplas personalidades e válvulas de escape violentas protagonizada por Edward Norton e Brad Pitt.

No menos famoso mas não menos intrigante filme de ação Equilibrium (2002), o atual Batman, Christian Bale, é um policial de repressão num futuro onde - ecos de 1984 e Admirável Mundo Novo - toda forma de arte é proibida. Numa cena, a Monalisa é descoberta e reduzida a cinzas sem cerimônia. A obra de Aldous Huxley é lembrada pelo fato dos personagens terem de tomar diariamente sua dose de uma droga inibidora de sentimentos - mais ou menos como a soma de Amirável Mundo Novo, que evitava manifestações de senso crítico e induzia a uma falsa alegria. A ditadura se faz presente no personagem que se autoproclama O Pai.

Há outros casos em que os personagens não contra-atacam, mas apenas procuram
sobreviver num mundo opressivo e deprimente. Caso de A Revolução dos Bichos, do mesmo George Orwell de 1984. Quando os animais tomam conta da fazenda e expulsam os donos opressores, tal função passa gradativamente aos porcos (alusão mais clara à sanha de poder dos humanos, impossível). O cavalo Sansão mostra-se como uma tocante representação do povo resignado mas resoluto no cumprimento de seus deveres, numa nova sociedade onde os cães são clara alusão à polícia que garante a permanência no poder dos porcos.

Em Fahrenheit 451 (1966), escrito por Ray Bradbury e levado às telas por François Truffaut, o absurdo da opressão se faz presente no contraditório ato dos bombeiros serem chamados a queimar livros. Quando o bombeiro Montag vê uma mulher morrer queimada junto com sua vasta biblioteca, passa a questionar sua função. Numa cena curiosa, a perpetuação dos livros se mostra possível quando personagens decoram livros inteiros. Com memórias como essa, não há repressão que agüente.