Sunday, September 07, 2008

2008: No Mínimo, Quatro Grandes Filmes

Se o ano terminasse agora, eu poderia dizer que as salas de cinema brasileiras apresentaram, pelo menos, quatro filmes memoráveis, tendo eles, em comum, não só o visual e ritmo atordoantes, mas também conteúdo.


Batman - O Cavaleiro das Trevas (The Dark Knight)

Uma nova aventura dirigida por Christopher Nolan (Batman Begins, Amnésia), desta vez dando ares de thriller policial, mas sem abdicar de cenas mirabolantes - a da batmoto em disparada pelas ruas de Gotham talvez seja a mais marcante. Um Coringa (último papel de Heath Ledger) que evoca as mais dementes performances do vilão nos quadrinhos e põe de vez no limbo das caricaturas as interpretações de Jack Nicholson e a da satírica série de TV. Destaque, também, para a criação do Duas Caras, algo assustadora e levada a cabo com muita competência por Aaron Eckhart, que desencumbe-se bem de personagem que trilha o limite entre a correção da Lei e a sede de vingança. Christian Bale e Gary Oldman, por suas vezes, firmam-se em seus papéis como os melhores intérpretes cinematográficos do Homem-Morcego e do Comissário Gordon, respectivamente. Nota 9,5.








Wall.e


Não tem jeito: a Pixar é mesmo incapaz de errar a mão em seus magníficos desenhos em CGI. Pelo contrário, continua a superar a si mesma. Mesmo num projeto que, a princípio, poderia ser de risco: um pequeno robô num planeta Terra devastado pela sujeira, em boa parte da trama tendo como companheira apenas uma baratinha. Isto é, quase todo o filme se constrói sem diálogos, apenas com alguns sons emitidos por Wall.e e ruídos do ambiente. Até que surge Eva, moderna robô enviada para avaliar as condições do planeta e a possibilidade de retorno da Humanidade (que foi embora numa nave gigantesca) à sua... Terra natal. E Wall.e a segue Universo afora. A animação consegue a proeza, também, de fazer uma crítica à sociedade porcalhona e preguiçosa passando longe de ser chata e com um humor irresistível. Quem gosta de ficção científica provavelmente irá se deliciar: há na trama temas como o confronto Homem x Máquina, a conquista espacial e a tecnologia sobrepujando a si, mesma - é notável o contraste do pequeno e enferrujado Wall.e (porém criativo e dotado de emoções) com a assepsia do mundo de onde vem sua querida Eva. Não fosse todo o conteúdo, ainda vemos na tela um espetáculo visual belíssimo, as imagens do espaço tomando ainda maior esplendor no contraste com o depósito de entulho que virou a Terra futurista. Desde já, Wall.e é uma obra-prima para todas as idades. Nota 10.



O Nevoeiro (The Mist)
Demorou, mas valeu a pena esperar pela adiada estréia por aqui desse magnífico filme de terror dirigido pelo mesmo Frank Darabont que adaptou de forma estupenda duas outras obras do escritor Stephen King: Um Sonho de Liberdade e à Espera de Um Milagre. O Nevoeiro baseia-se num conto que, anteriormente, dera origem a um filme menor de John Carpenter: Fog, A Bruma Assassina, e sua malfada refilmagem, A Névoa. Tudo em O Nevoeiro supera seus predecessores - incluindo aí o próprio conto de King -, seja nas excelentes atuações, seja no ótimo roteiro (que dá ênfase ao conflito entre os personagens que se protegem das criaturas, trazidas pelo nevoeiro, num supermercado), seja na tensão constante que o diretor Darabont imprime à história. Até mesmo os efeitos digitais - dignos de ferrenhas críticas pela falsidade que transmitiram em produções como as continuações de Matrix, O Retorno da Múmia ou a nova trilogia de Star Wars - funcionam. No elenco, Thomas Jane (O Justiceiro) passa muito bem a angústia de um pai que procura preservar o filho - e, por tabela, os companheiros presos com ele no supermercado - numa situação absurda e aparentemente sem saída. Em contraponto, Marcia Gay-Harden, como a fanática Sra. Carmody, arregimentando boa parte dos entrincheirados com seu eloqüente discurso apocalíptico, nos traz uma vilã para fazer frente ao Coringa de Heath Ledger. Esse tipo de embate, entre pessoas presas num lugar, já foi visto recentemente em Madrugada dos Mortos, onde os personagens têm de combater suas diferenças quando ilhados num shopping center cercado por mortos-vivos. Talvez a diferença, em O Nevoeiro, seja que o embate de humanos com monstros tenha o mesmo peso das diferenças de humanos contra humanos. Há ecos, também, de A Bolha Assassina (1998) e do contemporâneo Fim dos Tempos, De M. Night Shiamalan. Em ambos, algo inexplicado e inesperado assola uma sociedade até certo ponto pacata. Mas outro detalhe que faz toda a diferença põe O Nevoeiro um degrau acima de todos esses bons filmes: um final verdadeiramente chocante. Sem fazer uso do explícito ou do mau gosto. Frank Darabont é um diretor diferenciado que, não bastasse, ainda se cercou de muitos talentos. Nota 9.

O Procurado (Wanted)

Timor Bekmambetov (dos diferentes mas confusos Guardiões da Noite e Guardiões do Dia) propicia a obra com as mais alucinantes cenas de ação do ano, dignas de um Matrix ou de um Equilibrium. Some-se a isso uma trama tão subversiva quanto a de Clube da Luta ou V de Vingança. James MacAvoy interpreta um fracassado que nos remete diretamente ao personagem de Edward Norton no filme de David Fincher. Por outro lado, sua transformação num assassino implacável evoca o V da produção dos irmãos Wachowsky, em comum também com essa produção a origem nas HQs adultas. Angelina Jolie, Morgan Freeman e Terence Stamp dão ainda mais peso a essa aventura que tem pelo menos quatro seqüências que já podem se postar entre as melhores do cinema de ação: o início no alto de um prédio, uma perseguição de carros, um trem despencando num abismo e um ataque de ratos explosivos (isso mesmo) a uma fortaleza. Absurdas, mas diversão pura. Um embate de assassinos com dons especiais e revelações surpreendentes - além de acentuada violência (notadamente no treinamento de Wesley Gibson) - colocam O Procurado como o filme de ação do ano, muito à frente dos novos Indiana Jones e A Múmia. Nota 8,5.