Tuesday, November 14, 2006

Ouvindo Cinema e Vendo Rock


Foi com Sem Destino (Easy Rider) que se pavimentou a união entre rock'n'roll e cinema, muito embora os primeiros passos dessa dobradinha tenham sido dados com os filmes de Elvis Presley. Mas a imagem forte, definitiva, foi fixada nas estradas infindas do interior americano, com Peter Fonda e Dennis Hopper - mais Jack Nicholson na garupa - aventurando-se em suas motocas ao som de Born to be Wild, verdadeiro hino dos motoqueiros e aventureiros imortalizado pelo Steppenwolf.
De lá para cá o rock tem estado de mãos dadas com o cinema, seja como trilha incidental, seja como a própria trama.
Como trilha, vale comentar algumas que me marcaram há não muito tempo atrás. A de Uma Jogada do Destino (Judgemment Night), pequeno e ótimo filme de ação e suspense urbano estrelado por Emílio Estevez e com Dennis Leary no papel do vilão, merece destaque sua TSO de duplas que mesclaram rap com o mais pesado rock, ressaltando-se o dueto Boo-Ya Tribe/Faith No More com Another Body Murdered: enquanto Boo-Ya rapeava e as guitarras e baixo do FNM tocavam com todo peso, seu vocal Mike Patton arrepiava com gritos alucinados. O clipe passou muito na MTV em primórdios dos anos 90, mesma época de O Corvo (The Crow), célebre, infelizmente, não só por ser um vibrante filme de suspense, terror e ação, mas pela trágica morte de Brandon (filho de Bruce) Lee nas filmagens. Era ele então um astro em franca ascensão, tendo feito interessantes filmes policiais e de artes marciais como Rajada de Fogo (não confundir com Rajadas de Fogo, de John Woo) e Massacre no Bairro Japonês, onde fazia dupla com Dolph Lundgren, que foi cotado como um sucessor de Schwarzennegger e Stalonne, mas ficou no quase... A trilha de O Corvo apostava no rock pesado e tinha como destaque Milk Toast, dos Helmet, banda americana na época famosa por Unsung, outro hit dos bons tempos da MTV.
Outro filme do mesmo período tornou-se célebre, mais pela trilha sonora que pela história em si: O Último Grande Herói tinha Schwarzennegger e uma trama até interessante, com um herói de ação que escapa de seu filme e cai no mundo real. Porém o interesse do que se via na tela foi suplantado pelo que se ouvia: Megadeth, Queensrÿche, Aerosmith, AC/DC, Alice in Chains... Até hoje é difícil ver tantos nomes de peso numa única trilha sonora.
Poderia discorrer por horas sobre filmes bem sucedidos nessa casadinha ação x rock, mas é interessante também usar este espaço para lembrar de filmes onde essa união vai mais longe, ou seja, onde o...

rock é o tema

A cinebiografia The Doors, levada às telas por Oliver Stone (As Torres Gêmeas) em 1991, com Val Kilmer no papel de Jim Morrison, é das primeiras lembranças a vir à mente quando se fala nesse assunto. Vale lembrar que Kilmer, além da atuação extremamente realista, era a cara de Morrison, como bem ressaltou a revista Set numa de suas mais memoráveis capas, onde metade do rosto do cantor fundia-se perfeitamente à outra metade, rosto do ator. A trama, obviamente, segue toda a trajetória da banda, destacando a atribulada vida do líder, o cantor e poeta Morrison, toda a loucura de drogas, álcool e mulheres pespontada pela arrebatação de clássicos como Riders on the Storm, LA Woman, Break on Trough, Light My Fire, chegando ao apoteótico The End.
Porém, a união foi bem menos densa em outras opotunidades, onde o rock e o riso estiveram de braços dados. Jack Black - que na vida real tem uma banda de rock - viveu um sujeito que é expulso de uma banda graças aos seus excessos com a guitarra e, para sobreviver, resolve assumir falsa identidade para se passar por professor de uma escola tradicional, usando seus conhecimentos de história - história do rock'n'roll - para ganhar a atenção dos alunos. Trata-se do filme Escola do Rock, em cujo DVD há um extra em que o parrudo astro de O Amor é Cego e do King Kong de Peter Jackson orgulha-se e agradece ao Led Zeppelin pela inclusão de Immigrant Song na trilha sonora.
Um filme legal também na área do riso é Quanto Mais Idiota Melhor: dois malucos aficionados por rock montam uma TV pirata numa garagem. A cena de destaque acontece quando os personagens dublam/cantam Bohemian Rapsody, clássica do Queen, dando uma volta de carro co9m outros amigos.
Passando da comédia ao romance, Cameron Crowe ganhou espaço no cinema quando dirigiu Vida de Solteiro (Singles), com Matt Dillon e Bridget Fonda no elenco e grandes bandas grunges na trilha, como Alice in Chains, Pearl Jam e Soundgarden, com direito até a apresentações ao vivo permeando os encontros e desencontros do casal. O próprio Crowe, mais tarde, dirigiria Quase Famosos, com a revelação Kate Hudson como uma roadie de uma banda quase famosa - e fictícia, na verdade.

Brasil, Mostra a tua Cara!

Há também alguns filmes nacionais que merecem lembrança. O principal certamente é a cinebiografia Cazuza - O Tempo Não Pára, com Daniel de Oliveira encarnando com assustadora semelhança o genial líder da criação do Barão Vermelho. Um drama forte que não deixa passar batido nenhum dos grandes sucessos, seja do saudoso cantor em carreira solo, seja de sua fase no Barão.
Houve nos anos 1980 toda uma leva de filmes, alguns bons, outros nem tanto, aproveitando a fase New Wave do rock nacional. Rock Estrela, com Metrô e Léo Jaime na trilha; Garota Dourada e Bete Balanço, com músicas do Rádio Táxi e do Barão Vermelho, respectivamente, deram os títulos a outros filmes famosos do período. Um Trem para as Estrelas aproveita a canção de Cazuza, embora a obra não flertasse muito com o rock. E também é curioso lembrar o aproveitamento de Bichos Escrotos, dos Titãs em sua melhor fase, na trilha do policial Faca de Dois Gumes.

Terror e Pauleira

Um filme que traduz bem a compatibilidade entre o Terror e o Heavy Metal é O Rock do Dia das Bruxas (Trick or Treat), em vídeo conhecido como Heavy Metal do Horror, que nos anos 80 e 90 foi exibido à exaustão no SBT, dirigido por Charles Martin Smith, astro de Os Lobos Não Choram e o contador de Os Intocáveis. A história aproveita-se da velha lenda das mensagens satânicas que podem ser ouvidas ao se tocar determinados discos (notadamente de heavy metal) ao contrário. Tem participações de Gene Simons, do Kiss, e de Ozzie Osbourne (Black Sabbath).
Lembro-me muito bem de Hellraiser 3 - Inferno na Terra (aliás, o último bom filme da série...): Motorhead fecha o filme, tocando nos letreiros finais a podreira... Hellraiser.
Rejeitados pelo Diabo (Devil's Reject), suspense barra-pesada obra do líder do White Zombie, Rob Zombie, tem desfecho com direito à execução de praticamente toda a épica Free Bird, do Lynard Skynard, mítica banda americana que também teve destaque na refilmagem de O Massacre da Serra Elétrica - que, por sinal, também tinha o Skynard na trilha e era citado pelos personagens.

Um Documentário

Já os documentários mereceriam um capítulo à parte, de tão extensa é a lista, começando pelos vários que têm como tema o Festival de Woodstock, passando pelos que trilham o caminho de nomes como Bob Dylan (ninguém menos que Francis F. Coppola envolvido na produção) até Metallica (o excelente Some Kind of Monster). Mas termino ressaltando um: U2 - Rattle and Hum, verdadeira viagem musical do diretor Phil Joanou (da comédia oitentista Te Pego Lá Fora), acompanhando a turnê da banda em solo americano, na época do megassucesso do álbum The Joshua Tree. A execução de I Still Haven't Found What I Looking For com um coral batista é de arrepiar. É obra para fãs dos irlandeses, do rock'n'roll em geral e do bom cinema.

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