Sunday, May 13, 2007

A Morte Pede Carona... de Novo.




Deve estrear no Brasil nas próximas semanas mais uma refilmagem feita pelos (sem imaginação) americanos - desta vez, a vítima foi o clássico de suspense dos anos 1980 A Morte Pede Carona. Refilmagens raramente superam o original - raras exceções são O Chamado e Madrugada dos Mortos (remake de Zack Snyder que, se não superou o clássico de George Romero, pelo menos manteve um ótimo nível e trouxe boas inovações) - e as críticas lá fora a este novo The Hitcher não parecem ser das melhores. A história agora parece que traz uma garota como protagonista, mas nem nisso os produtores da refilmagem foram originais, já que na tardia seqüência A Morte Pede Carona 2 (filmada em 2003), apesar de começar com o personagem perseguido do primeiro filme, Jim (de novo interpretado por C. Thomas Howell), este logo sai de cena e quem é implacavelmente perseguido pelo novo maníaco das estradas é... uma garota. Dessa continuação (ou refilmagem disfarçada) ainda vale ressaltar que Jake Busey, apesar da cara de maluco, passa longe da sinistra atuação de Rutger Hauer, então vindo de atuações marcantes em Blade Runner (1982) e Conquista Sangrenta (1985).

A Morte Pede Carona (1986) trazia os então jovens astros em ascensão C. Thomas Howell (Uma Escola Muito Louca, O Selvagem da Motocicleta) e Jennifer Jason Leigh (Picardias Estudantis e Conquista Sangrenta, com o próprio Rutger Hauer), convincentes em seus papéis - principalmente Howell, um rapaz que, em sua viagem cruzando os EUA para entregar um carro na Califórnia, é levado ao desespero ao dar carona a um lunático que vai trucidando todos os incautos que encontra pelo caminho, sempre de um jeito que leva a incriminar o adolescente Jim.

São muitos os pontos altos dessa trama do roteirista Eric Red levada a cabo pelo diretor Robert Harmon, a começar pelo fato de toda a maior parte da história, ao contrário da maioria das produções do gênero, passar-se em plena luz do dia. Numa região que é pleno deserto, isso acaba ressaltando ainda mais a situação de desolação e solidão de Jim frente a um psicopata que faz questão de deixá-lo vivo para infernizá-lo mais e mais, assim como os felinos brincam com a presa antes de devorá-la.

Os quesitos técnicos são outro espetáculo, não digo à parte porque estão inteiramente a serviço do roteiro: os sons - o engatilhar de uma arma, os passos em câmera lenta num chão encharcado de gasolina - são ressaltados (assim como os silêncios que os precedem), o que faz necessário que a obra seja vista (e ouvida) num bom cinema - tive o privilégio de assistir ao filme na telona - ou com um bom home theater. A quem alugar o DVD: prefira a versão original, porque a dublagem brasileira torna o personagem Jim um molecote de treze, e não de dezesseis ou dezessete anos, além de fazer o caronista parecer menos ameaçador que na voz calma e falsamente gentil de Hauer - coisas que quase me deram raiva quando revi o filme, recentemente. Ainda sobre o DVD, lançado pela Studio Canal, não se pode esperar sequer um trailler de extra, além da (dispensável, no caso) versão dublada.
Também a fotografia merece destaque, muito bem usada para ressaltar tanto a crueza do deserto quanto as cenas de ação - sim, há boas cenas do gênero, com direito a explosões e uma ótima perseguição automobilística, sem danos ao desenvolvimento da trama e dos personagens. Não há exageros, e boa parte das mortes é mais sugerida que mostrada, opção inteligente do diretor Harmon, que mostra uma habilidade enorme em criar situações de extrema tensão.

C. T. Howell, da mesma geração de jovens astros como Rob Lowe e Emilio Estevez, hoje está no time B das produções americanas, como A Morte Pede Carona 2, e participou de alguns episódios da quinta temporada da série 24 Horas; Jennifer Jason Leigh geralmente é coadjuvante ou co-estrela de algumas produções de destaque, como O Operário (com Christian Bale), Estrada Para Perdição (com Tom Hanks) e Em Carne Viva (da diretora Jane Campion); já o astro cult Rutger Hauer, hoje sessentão, ator preferido de Paul Verhoeven - holandês como ele e que o dirigiu em Louca Paixão (1974), Soldados de Laranja (1977) e o já citado Conquista Sangrenta) reapareceu num filme classe A em Sin City (de Robert Rodriguez e Frank Miller), onde fez o papel de um padre maquiavélico, e também Batman Begins (2005), como o personagem Earle, alternando atuações nesses ótimos filmes com micos como Minotauro (2006) e Drácula III (2005). Hauer continua trabalhando muito, é só entrar no IMDB e verá que o holandês tem nada menos que sete produções finalizadas ou em pós-produção. Mas dificilmente ele voltará a ter o mesmo destaque da época de em que ele foi The Hitcher, talvez o mais marcante suspense dos anos 80.